Formação da comunidade: busca pela educação e pedagogia aplicada na comunidade de Ilha Grande do Pontal

by: Cicero Silvestre Cardoso 


A comunidade de Ilha Grande do Pontal se localiza na zona rural da cidade de Lagoa Grande, Pernambuco. É uma das muitas ilhas encontrada no Rio São Francisco, é habitada por aproximadamente 150 famílias as quais têm como principal fonte de renda a agricultura familiar, bem como a criação de animais domésticos, sendo a agricultura mais presente, visto que há acessibilidade de água para a irrigação.

A Ilha grande do pontal é uma área de assentamento, no entanto nem sempre foi assim, segundo populares da comunidade, a cerca de trinta anos havia apenas um dono, um latifundiário o qual detivera toda a posse da terra, não trabalhava diretamente com o terreno, então ele fez divisões e pós um arrendatário em cada unidade de terra, para que esse individuo e sua família trabalhasse e pagasse a aparte da renda acordada por eles.

Com isso as pessoas que trabalhavam no terreno, passaram a sentir a necessidade de garantir a sua permanência na terra, bem como se desprender do latifundiário, com isso algumas figuras políticas e sindicais notaram essa necessidade, articulando assim a compra e a distribuição do latifúndio, de acordo como o entrevistado A “nós trabalhava de meia, era arrendada, nós pagava a renda a um povo de Santa Maria da Boa vista [...], ai Miguel Arrais compro e deu pros pobres”, quando ouve a divisão do terreno para as famílias, já havia  muitos casos, em que outras gerações estavam trabalhando no terreno, “quando vieram medir as terras, eu já estava trabalhando no terreno que era de meu pai que já pagava a renda aqui, já era meu pai que trabalhava aqui dentro”. Visto isso, a conquista da posse da terra, com base em relatos dos moradores da comunidade, não teve influência ou participação ativa ou direta de algum movimento social, somente de figuras políticas, do sindicato de trabalhadores rurais da região e dos próprios arrendatários. Contudo, por ser uma área de assentamento, onde o trabalho rural e a agricultura são a única fonte de renda dessas famílias, atualmente existem algumas ligações com a Federação dos Trabalhadores Rurais e Agricultores e Agricultoras Familiares do estado de Pernambuco (FETAPE), sendo o foco principal promover uma educação mais igualitária as pessoas de área rural.

Com a posse da terra e a permanência das famílias na comunidade recém formada, surge a necessidade de promover meios que possibilitar uma educação de qualidade e devidamente registrada, visto que havia muitas crianças residindo na comunidade e que tinham que se deslocar para outra comunidade vizinha para estudar. Por ser uma ilha era de difícil acesso, então de inicio usaram uma das propriedades da igreja, chamada de “Casa grande”, para que houvesse um local especifico para acontecer as aulas, com professoras vindas de Juazeiro da Bahia para ministrar as aulas. Quando aproximadamente no ano de 1994 foi construída a escola, ainda sobre a direção da prefeitura da cidade de Santa Maria da Boa Vista, Pernambuco.

Atualmente a escola funciona com o ensino fundamental 1 convencional, em razão do espaço que não comporta todos os estudantes, as crianças e adolescentes cursam o ensino fundamental 2 e médio na comunidade de Vermelhos, vizinha da ilha, nesse sentido muitos moradores têm que deslocar da comunidade para outra.

Muitos desses moradores, além das crianças que são prioridade na questão de promoção da educação, existem jovens e adultos que também sentem a necessidade de retornar aos estudos, nesse sentido, a escola que existe na comunidade não comporta essas pessoas, precisando adotar um caminho alternativo para garantir o direito à educação. E é nesse processo que as ligações com a FETAPE, ficam mais forte através do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) que por sua vez é promovido por esse movimento social.

O programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) possibilita que pessoas que não puderam dar continuidade aos estudos, possam retornar a escola, e dar seguimento na sua educação, esse programa vem substituindo o antigo supletivo. A carga horária é reduzida pela metade da convencional, nesse sentido, 6 meses equivalem a 1ano letivo. A divisão das turmas são feitas por módulos ou fases, cada fase dura 1 ano letivo, é equivalente à duas series do ensino convencional, sendo o programa composto por 4 fases. A partir dos 15 anos de idade, estudantes que se encontram em atraso, como base na sua idade em relação a serie a qual está, é feita essa transferência, como o objetivo de fazer com que o aluno acompanhe ou se aproxime dos que estudam no ensino convencional, restaurando o direito a educação possibilitando uma equidade na concorrência de entrada e permanência no mercado de trabalho.

 As praticas pedagógicas aplicadas nas escolas da comunidade não têm muita influencia da FETAPE, visto que, por ser uma zona rural a perspectiva de educação proposta pelo programa é que seja um ensino que atenda as necessidades especificas da região, buscando uma educação no e do campo, procurando adequar esse ensino a realidade das pessoas que residem no campo, para que esses conhecimentos possam de fato serem  utilizados onde residem. Na escola da comunidade se assemelha a uma pedagogia tradicional, os assuntos e conteúdos trabalhados são sistematizados e regulamentados por lei, deixando assuntos e conteúdos voltados à realidade dos estudantes de fora da grade curricular, visto que é de grande importância o aluno ter conhecimento sobre os mais diversos assuntos, mesmo que esses estejam distantes de sua realidade, bem como conhecer assuntos que o possibilite de fazer uso e se desenvolver junto a sua comunidade. Por tanto, é necessário mais políticas publicas que promovam e possibilitem que todos tenham de fato direito à educação, visto que a educação é uma das coisas que contribuem para a formação e transformação do individuo, e em conseqüência disso também a sociedade.

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